A primeira vez que chamei um táxi depois da meia-noite e a telefonista me atendeu com um convicto “Bom dia”. Fiquei perplexa. Desde os três anos, se não me engano, tinha cá pra mim como uma verdade incontestável que dia era quando estava claro, noite quando estava escuro, certo? Bem, segundo a moça do táxi, não. Cheguei a olhar o relógio para ver se as horas tinham passado sem que eu percebesse. Negativo, os ponteiros marcavam 1h30 AM. AM, entenderam? Olhei então pela janela: vai que por algum fenômeno metereológico, por causa do buraco na camada de ozônio ou de emissão de gasses na produção de Danoninho, o nascer do Sol tivesse se adiantado em... cinco horas?! Também não: lá fora o céu continuava escuro como o cabelo da Branca de Neve. Por que diabos, então a moça do radiotaxi havia me dado bom dia?
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Quando ligo para alguma amiga no trabalho e a moça pergunta: “Carolina de onde?”, nunca sei o que dizer. Dependendo da amiga, o mais correto seria: “De onde? Ah, diga que é a Carol do maternal, eu emprestava a minha pá para ela no tanque de areia”. Poderia também encarar a pergunta de outra forma e dizer: “Carol de Campos, norte fluminense”. Quem sabe a questão fosse muito mais simples e pudesse me sair assim: “Da cozinha, queridona... agora da sala, indo pro quarto... É que a gente comprou um telefone sem fio, sabe?
As duas situações me parecem fruto de uma mesma semente: a burocratização da vida. Bureau significa escritório em francês. Burocratizar a vida é, portanto, algo como “escritorizá-la”. É submeter o cotidiano às mesmas regras que organizam uma firma: encarnar os fatos com planejamento, arrumar tudo em fichários, liberar só com carimbos e tentar ser o mais eficiente possível. (Ah, eficiência! Quantos crimes já não se cometeram em seu nome?!!!) Acreditar que depois da meia-noite já é amanhã é um procedimento burocrático, necessário para o bom funcionamento dos negócios bancários, o planejamento das companhias aéreas e a precisão das multas de trânsito. Para a maioria de nós, no entanto, mortais não fardados nem fadados a encarar a vida como uma tarefa administrativa, a coisa parece meio esquisita. Da mesma forma quando alguém pergunta “Carol de onde?”, podemos subentender “Carol de que empresa?”. Como se todas as pessoas fossem, antes de serem amigas, primas, irmãs ou namoradas umas das outras, empregados de alguma firma. O trabalho vem antes de tudo.
Tanto em uma quanto em outra situação, a intenção das pessoas do outro lado da linha é, conseguindo mais eficiência, melhorar a produção e expandir seus negócios. Nem que para isso tenham que trocar a noite pelo dia e pôr o mundo de pernas pro ar. Time is money, assim como o tempo, não se gasta por aí passeando, telefonando para fofocar nem lendo bobagens tôo pouco edificantes como estas aqui. Será?
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Quando ligo para alguma amiga no trabalho e a moça pergunta: “Carolina de onde?”, nunca sei o que dizer. Dependendo da amiga, o mais correto seria: “De onde? Ah, diga que é a Carol do maternal, eu emprestava a minha pá para ela no tanque de areia”. Poderia também encarar a pergunta de outra forma e dizer: “Carol de Campos, norte fluminense”. Quem sabe a questão fosse muito mais simples e pudesse me sair assim: “Da cozinha, queridona... agora da sala, indo pro quarto... É que a gente comprou um telefone sem fio, sabe?
As duas situações me parecem fruto de uma mesma semente: a burocratização da vida. Bureau significa escritório em francês. Burocratizar a vida é, portanto, algo como “escritorizá-la”. É submeter o cotidiano às mesmas regras que organizam uma firma: encarnar os fatos com planejamento, arrumar tudo em fichários, liberar só com carimbos e tentar ser o mais eficiente possível. (Ah, eficiência! Quantos crimes já não se cometeram em seu nome?!!!) Acreditar que depois da meia-noite já é amanhã é um procedimento burocrático, necessário para o bom funcionamento dos negócios bancários, o planejamento das companhias aéreas e a precisão das multas de trânsito. Para a maioria de nós, no entanto, mortais não fardados nem fadados a encarar a vida como uma tarefa administrativa, a coisa parece meio esquisita. Da mesma forma quando alguém pergunta “Carol de onde?”, podemos subentender “Carol de que empresa?”. Como se todas as pessoas fossem, antes de serem amigas, primas, irmãs ou namoradas umas das outras, empregados de alguma firma. O trabalho vem antes de tudo.
Tanto em uma quanto em outra situação, a intenção das pessoas do outro lado da linha é, conseguindo mais eficiência, melhorar a produção e expandir seus negócios. Nem que para isso tenham que trocar a noite pelo dia e pôr o mundo de pernas pro ar. Time is money, assim como o tempo, não se gasta por aí passeando, telefonando para fofocar nem lendo bobagens tôo pouco edificantes como estas aqui. Será?